sábado, 17 de novembro de 2012

3° Conferência AFD- Políticas Sociais e o Judiciário - Desembargadora Luislinda Valois



Teixeira de Freitas- Bahia 14/11/2012
Local: FASB



Após a cerimônia inicial de  apresentar as autoridades presentes, compor a mesa , desfazer a mesa, agradecimentos  então começou a palestra da Luislinda Valois,1° juíza negra, no Brasil. Surpreendendo os ali presentes que pouco tinham contato com religião Afro,Luislinda pediu licença e fez uma saudação (pedido de benção)  a sua religião. E assim que começou a falar sobre a ausência do negro no espaço social, surpreendeu mais uma vez todo mundo, pedindo respeitosamente para fazer uma colocação. E apontou para o cartaz da propaganda do curso de Direito que só tinham pessoas brancas e perguntou onde está o negro? 




O público ficou chocado e bateu palma ouvia-se também  da platéia coisas como: Ai meu Deus, Desculpa e outras abaixavam a cabeça.


Luislinda fez várias colocações e uma delas é que o: PPP (preto, pobre e periférico) nunca tem chance igual ao dos demais. Falava da diferença da escola da periferia que não tinha computador suficiente para todos os alunos. Que o racismo impedia o negro de estar em mais ambientes na sociedade e também falava que muitas vezes o negro com medo e pré-conceito também se excluía. E dialogava mais sobre como o Racismo é primitivo. E falava da classificação na hora do crime cometido entre Racismo e injúria racial (ação privada) e mais uma vez ressaltava a falta de termos mais juízes negros para julgar negros. E concluía com o pensamento que faz-se necessário ter um juiz que veio de origem pobre , humilde também e negro para numa hora dessas realmente julgar de forma justa. No caso da Injúria que é feito através de ação privada muita das vezes o negro desiste de fazer  ou mesmo (se for periférico, sem estudo) desconhece tal direito. Mas  concluiu esse momento amenizando a situação dizendo:

“Vamos acreditar na justiça, ela está melhorando. Já foi bem pior.”.




 Falou também da minoria como obeso, o homossexual, pobre como esses ficam  de lado, falou da dificuldade do obeso em pegar um ônibus se não tem um banco para ele, como ele vai trabalhar? E no geral ela complementou dizendo que muitas pessoas boas estão deixando de ter seu brilho profissional e social  por ser a minoria excluída da sociedade.


Ao perguntar se alguém conhecia um negro brasileiro que jogasse golfe,que fizesse parte da fórmula 1?Ninguém sabia responder. Ao falar do futebol ela deu  outra visão daquilo que a maioria  não consegue ver. Falou que no futebol o negro quando chega a fazer sucesso como jogador é só como jogador, nunca se torna um diretor de clube ou de alguma coisa da FIFA, CBF. E ainda complementou alertando que muitos jogadores negros chegam analfabetos institucionais, então pouco a pouco ele “roubado” através de porcentagens  de contrato de quem negocia o passe, uma mulher loira linda que casa com ele tem filho depois se divorcia e quer pensão, os impostos que tem que pagar ao Brasil. E ela perguntou: Vocês estão fazendo a conta de quanto sobra para ele? Bem eu não sou boa em contas, mas julgo que se sobra alguma coisa é bem pouco.




Depois ela comentou que veio há pouco tempo da Áustria e que estava horrorizada de ver a situação das mulheres brasileiras que ali estavam a maioria branca. Ela comentou da dificuldade delas de falar a língua do local e de como eram maltratadas pelos homens de lá. E disse alto para o público:

“Não acreditem quando alguém falar que mora fora e está tudo bem. É mentira! Aquelas mulheres sofrem demais.”



Ela saiu de coração partido de ver aquela situação e quando foi pesquisar descobriu que o governo brasileiro nada sabia e ou fazia. E de forma firme e emocionante falou:


“Eu vou continuar fazendo essa denuncia por onde eu for mesmo que morra.”.


 O silêncio nessa hora equivaleu a gritos. Depois continuou e dessa vez comentava do triste quadro de ter mais negros na prisão do que na escola. Nessa hora ela também disse:


“Não importa se você é branco, negro,amarelo, azul, verde, rosa.. Por favor jovens não usem drogas. A droga não acaba só com o usuário mas com a família também.”.


 Ao falar das cotas, disse que ela mais outras 3 mulheres que lutaram para ter a cota do negro na faculdade no Brasil. E disse que a cota não é para sempre é apenas temporária até o negro ter a mesma  chance de estudo e por conseqüência trabalho também que o não negro tem. E disse de forma bem enérgica:


“Não queremos nem beneficies, nem esmolas e sim oportunidades. Cotas são necessárias enquanto não se modifica a mentalidade brasileira.”.


E fez um pedido para que não maltratássemos colegas de, cotas, prouni e coisas do gênero, por que não é fácil estar aqui sendo a minoria. Nessa hora outra salva de palmas foi feita no auge da emoção.

Após os animos esfriarem ela contou de como é o Racismo na prática. Assim que eu proferi a primeira sentença contra o Racismo no Brasil eu recebi muitas ameaças de morte. Como algumas começaram a ficar pesadas eu falei vou viajar e fui ao banco com meu filho pegar o dinheiro, ele disse: "mãe sente ai que eu pego para senhora". Como demorou mais de cinco minutos, o pessoal do banco veio com segurança e tudo mais falar comigo. O filho vendo um monte de pessoas em volta perguntou o que houve? Então ele disse - o gerente - eu pensei que ela ia roubar o banco. E eu paro por aqui essa história. Fiquem pensando sobre isso.


Falou do carnaval que antes era do pobre para pobre e hoje o pobre só trabalham e mesmo assim no final do carnaval, ficam as mulheres marginalizadas, violentadas, na mão de “agenciadores”.... e nove meses depois  nascem o filho do carnaval. E falando que muita mulher negra prefere fazer o aborto por que sabe que crianças negras não são adotadas. Começou a contar que quando um casal francês veio a comarca dela. "Quero adotar" ,ela respondeu eu tenho um da minha cor. E o casal disse que queria um branco então ela disse se não é o negro vocês tem 24 horas para sair da minha comarca ou irão ser presos.

E pro final ficou a parte mais emocionante que é quando ela conta a história dela de criança até se tornar desembargadora. Eu já tinha escutado em uma entrevista dela na Tv sobre o que professor racista falou com  ela porém era como se eu estivesse escutando pela primeira vez e foi inevitável , chorei junto com ela. Todos batiam palmas para ela enquanto ela fazia uma pausa entre lágrimas, mas também se escutava o fungar (do choro) de vários narizes. Após esse breve intervalo ela voltou a contar a história dela até a luta que foi se torna desembargadora. E disse ao final:


“O erro não vale para ninguém.”.



Então acabava ali a palestras e todos de pé bateram palmas. Foi realmente emocionante, foi um show de humanidade. Se tem algo que ficou bem evidente nessa palestra foi que precisamos de humanidade ao aplicar a lei, ao fazê-la e no dia a dia com todas as pessoas. Mas principalmente olhar de forma real para a minoria (que é uma grande parte) de pessoas excluídas pela cor, sexualidade, idade, por ser mulher. E que nós minoria precisamos estudar muito para chegarmos a cargos que possam lidar com pessoas e mudar a cara do Brasil.

Texto de Rani Mendes Oliveira Lima.
Obs: Esse foi um pequeno relato da grande noite que foi ao lado de uma pessoa tão ilustre não só profissionalmente, mas pela luta da humanidade que demonstrou ter diariamente.

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